O uso pesado episódico de álcool (binge drinking) é definido pelo NIAAA (National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism) como o consumo de 5 ou mais doses alcoólicas por homens ou de 4 ou mais doses por mulheres dentro de um período de 2 horas, padrão de consumo que está aumentando nos países ocidentais, particularmente no Reino Unido.
Esse padrão de uso de álcool tem sido associado a maiores riscos para o acontecimento de: ferimentos; violência interpessoal; síndrome alcoólica fetal; negligência parental; perda de produtividade; suicídio; transmissão e contágio de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST); gravidez não-planejada e desenvolvimento de hipertensão e arterosclerose. Porém, são poucos os estudos a respeito da interferência desse padrão de uso sobre o fígado.
Dessa forma, os autores buscaram informações do impacto do beber pesado sobre o fígado, as quais foram organizadas em três frentes: (a) se os dados experimentais indicavam para efeitos deletérios, do beber em padrão binge, sobre o tecido hepático; (b) se os dados comportamentais apontavam que jovens que fizessem uso de álcool nesse padrão tivessem maior risco de serem bebedores pesados (e desenvolver cirrose) na idade adulta e (c) se os dados epidemiológicos apoiavam a hipótese de que houvesse um aumento do risco do desenvolvimento de cirrose relacionado ao padrão binge.
De forma geral, segundos os autores, o beber em binge lesiona o tecido hepático pela indução dos seguintes mecanismos: aumento de endotoxinas na veia portal; aumento da produção de citocinas e óxido nítrico sérico; diminuição de glutationa; ativação das células de Kupffer; aumento de produtos de peroxidação lipídica e apoptose hepática.
Os episódios repetidos do uso de álcool nesse tipo de padrão acaba intensificando os mecanismos anteriormente citados, piorando os danos teciduais no fígado. Na análise comportamental, estudos têm indicado que metade dos homens jovens que faziam consumo binge de álcool continuaram a fazê-lo no início da idade adulta, comportamento que acaba por consistir em forte preditor para se tornar um bebedor crônico na idade adulta.
Na análise epidemiológica, um estudo longitudinal apontou que 7,5% dos bebedores binge e 16,1% dos bebedores diários desenvolveram cirrose. Já outro estudo mostrou que 32% dos pacientes cirróticos podiam ser classificados como bebedores pesados episódicos.
Assim, considerados em conjunto, os autores sugerem que o beber em padrão binge esteja associado a importantes danos ao tecido hepático, podendo ser considerado um fator preditor e de risco para o desenvolvimento de padrões nocivos de consumo e das doenças associadas, entre elas a cirrose alcoólica.